domingo, febrero 04, 2007

Balthus


Contrariando sua apatia, naquele domingo, Teraza acordara com seu corpo tomado pelo desejo. Não queria ficar trancada dentro de casa alimentando-se de suas misérias, gostaria de encontrar-se, ressurgir de dentro dos buracos de sua pequena casa.
Encaminhou-se sozinha e deslubrante, com sua brancas omoplatas a mostra, um bar, iludindo-se que seria feliz.
A euforia era revelada em cada cena, em cada instante que seus olhos cor de âmbar fotografavam. Queria dançar, sentir, consumir-se naquela alegria. Sentia que outra mulher tomava conta do seu corpo.
O som do tambor de crioula hipnotizou-a, a dança circular das coreiras teve o supreendente poder de fazer com que parasse de racionalizar.
Neste momento não se reconhecia, outra havia tomado seu corpo.
Os flashes ficavam mais rápidos ao ritmo do tambor.
Sua tez alva e suas profundas olheiras necessitavam de toques que eriçariam seus longos cabelos castanhos-claro e luminaria toda a extensão do seu corpo.
Mais e mais e mais rápidos...
A umidade de suas entranhas diluia a imagem sisuda de Tereza.
Silencia o corpo de Tereza.
Após uma noite com um (quase) desconhecido Tereza com suas mãos magras e dedos alongados, seu retilíneo nariz que lhe dava um ar superior voltara preferir sua solidão, voltara preferir ser uma toupeira acima do chão.
Deitada em sua cama percebeu o que havia entre sua sedenta vontade de fonemas e o inviolável silêncio que pairava em seu retrato preto e branco: lembranças.
Superioridade dolorida.