jueves, noviembre 29, 2007


Sua sensibilidade não lhe permitiria sorrisos vãos a vãs pessoas, a mediocridade da existência humana o exasperava.



Conversas em corredores povoados de inveja, calúnias, egoísmos, pseudo-acadêmicos, egocentrismos. Nada daquilo lhe dizia respeito; neste enojamento desesperado ele desaparecia aos olhos daqueles que nãopercebem que a dor e o vazio recompõem-se em ávidos fantasmas habitando, com zelos angustiados, nossas noites vazias.



Ele fazia de sua ausência, a presença constante e de seu silêncio, ávida comunicação. Lutava com suas dicôtomias e raramente, num gesto violento, o animal homem resolvia comunicar-se, para logo em seguida sua presença surgir em um meigo sorriso e com um certo brilho naquele olhar, sempre tão distante.



Quando conversavam sentia que uma tsunami sairia de sua boca, palavras que descreveriam tudo o que permanecia de mais sentido nele, mas não. Contraia-se sempre, afogava-se em palavras, e epilético de sentimentos convulsionava-se interiormente. O silêncio imperava. Dolorido. Era a própria imagem do cansaço; mas se olhasémosmais agu(ça)damente veríamos uma alma transparecendo de seu olhar: um abismo de angústias e desespero.



Assim, Atlas vivia: povoado por fantasmagorias, desinteressado de tudo; vendo as coisas vagar, com a mesma vagarosidade que seu silêncio pedia uma presença. Uma que habitasse o desterro que sentia do convívio humano, que preenchesse a ausência de ritmos, que colorisse, mesmo que ilusioriamente, a macarca d'água que imaginava ser o mundo.


Não tenho pretensões literárias, não sou poeta, contista ou qualquer coisa que os generos literários conceituam. Escrevo quando dá vontade, o que sinto... É bom?... Não sei, há os que eu goste, há os que eu não goste, apenas escrevo.

Este post escrevi pensando em um amigo. Moço, este é para você!

miércoles, noviembre 14, 2007


Medusa - Caravaggio







Cálice
Gilberto Gil/ Caetano Veloso - 1973




Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda

De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado

Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça

Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

lunes, noviembre 05, 2007

The Bubble!


Li, recentemente, um email que me enviaram dizendo que sou uma pessoa que cobra demais carinho das outras pessoas, que sempre estou mal e como sou feliz no orkut.


Achei graça dessa descrição sobre a minha pessoa. O que deu pano pra manga pra eu muito refletir. Parece-me que é ai que mora o perigo dos melancólicos: pensamos demais, refletimos demais.


Enfim, nessas reflexões, até levei em consideração o fato "de estar sempre mal" e tentei ser "mais alegre", como se minha esponteineidade natural, já não abafasse minhas dores e mágoas. Quem são as pessoas que, realmente, me conhecem? As pessoas com quem converso e sabem da "real" face de mim mesma?


Enfim, sendo "mais alegre" para as pessoas que não gostam de tristezas, melancolias, angústias e sensações de vazio, fui ficando mais melancólica e angustiada. Algo só de mim, para mim.


Em relação à cobrança de carinho e ser feliz no orkut. Refleti sobre isso, mas não vou falar disso agora, apenas que cometerei o orkutcídio.


Nessa sensação melancólica de que devemos parecer bem para os outros, parece-me que depende de nossa alegria, a alegria de outrem, acordei no último domingo bem chateada, até por alguns fatos ocorridos no sábado.


Calada em casa, dormindo muito e dando conta de minhas obrigações, resolvi, à tarde, ir ao cinema. Sozinha! (O que pode causar surpresas em algumas pessoas).


A sessão começou às 16h30 minutos. The Bubble, um filme iraniano que eu já estava a fim de assistir há algumas semanas.


Quando a sessão acabou eu estava completamente arrasada, tão arrasada quanto a última cena. Te Bubble devastou-me!


Vazia. Desnorteada. Com o pranto engasgado na garganta. Minhas pernas tremiam.


Como a bomba, The Bubble fez-me repensar tudo. Na verdade, o filme fez-me perceber que nada vale a pena. Desacreditei em tudo, mais uma vez.


Caralho! Fazia tempo que nada do que eu lia ou assistia causava-me uma sensação de catarse tão grande! Não quero discutir aqui as relações de direção, roteiro, filmagens e etc... Mas, sim que merda de vida é essa que temos? Para que tantos sonhos? Para que tantas discussões? Para que fugir tanto dos outros? Para que, para que...? Nada faz sentido, nada faz sentido!


Estou fazendo algo neste blog que nunca havia feito: falar em primeira pessoa e contar algo meu como eu mesma. A Face de Hérika. Não adiantaria Fada, Tereza, Gertrudes ou Atlas irem ao cinema, EU fui ao cinema, eu fui colocada em xeque, o vazio existencial produzido, foi comigo.


Nada do que eu acredito foi salvo após o filme. Na saída do cinema acendi um cigarro e fui andando desolada, com uma vontade enorme de chorar, minhas pernas trêmulas, meu coração batendo acelerado, as palavras haviam perdido o sentido, e então encontrei alguém que mexe com meu imaginário de desejo. Quando o vi percebi que não valia a pena lutar por ele, quando o vi não tinha palavra alguma para ele, a não ser um "oi" e um "caralho..., vou pra casa", mas esta frase, para mim, está carregada de outros significados (ou seriam significantes?) O que merece minha atenção? Se nada mais vale a pena.


Independente dos conflitos pessoais e/ou nacionais, para que um sacrifício? Independe de ser hetero ou homo, ser branco ou preto, ser judeu ou palestino, ser traficante ou morador da favela... somos iguais em qualquer lugar, lutamos pelas mesmas causas, pela paz, pelo amor, pela compreensão... Para quê?


Melhor seria, realmente, explodir-me.


Afinal, será que, ainda, tenho alguma chance neste mundo?


Assistam The Bubble! Ele sim merece a nossa atenção!

A Caixa Postal

*Alô. Ei, é Fada! Olha só, tô te ligando pra ti convidar pruma reunião aqui em casa...
**Te ligo mais tarde... isso é uma gravação, deixe seu recado após o bip!
Libélula! Continuo falando com a caixa postal!