sábado, diciembre 09, 2006

SER OU NÃO SER DE NINGUÉM (Arnaldo Jabor)

Na hora de cantar, todo mundo enche o peito nas boates e gandaias, levanta os braços, sorri e dispara:
"... eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também..."
No entanto, passado o efeito da manguaça com energético, e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração tribalista se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas
animadíssimas é legal? Evidente que sim.
Mas por que reclamam depois?

Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que toda ação tem uma reação? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua,
namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja, é preciso comer o bolo todo e, nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber
se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, os tribalistas não namoram.
"Ficar" também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada.
Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que
namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim, como só deseja a cereja do bolo tribal, enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas, e a troca de cumplicidade, carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.
Já dizia o poeta que amar se aprende amando. Assim, podemos aprender a amar nos relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram
passados. Somos livres para optarmos.
E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico
e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da tão sonhada felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as
surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins. Ser de todo mundo, não ser de ninguém,
é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida SOLIDÃO... Seres humanos são anjos de uma asa só, para voar têm que se unir ao outro"

11 comentarios:

Anónimo dijo...

"Para comer a cereja, é preciso comer o bolo todo".

nem sempre...

mas acho q não era pra eu ter lido esse texto numa noite solitária de sábado...

=T

não mesmo.

bjos para a moça de risos verdes nos olhos...

Anónimo dijo...

"Seres humanos são anjos de uma asa só, para voar têm que se unir ao outro"

ai, ai...

Anónimo dijo...

de volta num sol todo noturno...maravilha!

Anónimo dijo...

apareci oh!
bjos amor

Sol Noturno dijo...

Carolina Viana, linda!!!
Nosso café foi tão bom, sempre bom estar com vcs.

Amo-os!!!

Anónimo dijo...

Engraçado,o Jabor é tão banal quanto o Carlinhos Brown que só quer tocar tambor...Blah!
Aliás,isso não faz parte de uma geração,toda essa promiscuidade tem looonga data...blah de novo!

Tássia Campos dijo...

A cereja é a pior parte do bolo [pelo menos pra mim]. Gosto mesmo é de todo o melado antes de pôr o bolo no forno, e gosto tb de vê-lo prontinho depois, fofinho e grande. Penso que as relações são como um bolo. Que não dá pra comer só os ovos, ou só o leite, ou só o trigo tudo separado. Tem comer tudo junto...rsrsrss.E lalarílalá...
Beijinho.

Jonathan Rodrigues dijo...

não sou nenhum pela saco do jobar, não conheço tão bem seu trabalho, mas como cinéfilo tenho que admitir que odeio certos comentários e idéias que ele tem sobre cinem,a e tal

mas devo admitir que esse texto é ótimo, bom hora ele parece comum e até clichê
mas ele capturou a essência do que quis discutir
emfim, esse texto fala muito comigo pessoalmente, ja que defendo ferrenhamente a sua idéia

pontos pro cara

Anónimo dijo...

Bom...O texto é exelente!E confesso que quando lí a primeira vez,logo de cara também não curti muito,mais depois descobri que na verdade o texto tinha atingido o fundo da minha alma...99% das pessoas com certeza se identificam com as palavras contidas no texto,e por isso o impacto de não gostarem...no fundo,no fundo,é a realidade dos dias de hoje,a prova disso,é que os casamentos não duram mais,e as pessoas cada vez se amam menos...

Tá de parabéns!O texto mais proveitoso da geração atual...

Anónimo dijo...

adis philosophies perceiving recording failures near vinz younger preference technicians inherently
semelokertes marchimundui

Unknown dijo...

Gostei do texto logo de cara,sou super fã de poesias e poemas,
textos literarios e outros.
mais esse texto realmente toco em mim,sempre fui desse jeito,eu queria ser livre mais queria ter alguém...mais que esse alguém fosse apenas meu e fosse fiel a mim só que eu,só eu poderia ser do mundo. depois de um tempo veio a solidão e ficava reclamando que ninguém queria nada sério,mais nunca me dava conta que nem eu queria nada a serio.